Coluna do Cruzeirense | Exclusivo Cruzeiro.org | 30.Set.2004
Torcida Cruzeirense de A a Z
por Wilson Flávio

Tão fascinante quanto o futebol e o Cruzeiro é essa figura chamada torcedor cruzeirense. Torcedor de arquibancada, geral, cadeira, radinho de pilha, torcedor que acompanha pela TV ou pela internet, por meio das transmissões do Cruzeiro.Org, e vários outros tipos espalhados pelos quatro cantos do mundo. Apesar de achar a tarefa quase impossível, tentei catalogar algumas espécies dessa figura que, longe de estar em extinção, se alastra por onde há vida e futebol no planeta que, não à toa, é azul.

Arquibaldo: Denominação utilizada para o torcedor cruzeirense que vai de arquibancada no Gigante da Pampulha. É uma espécie bastante barulhenta que normalmente se alimenta de tropeiro com torresmo regado a muita cerveja. Essa espécie tem um poder enorme de derrubar técnicos, presidentes e eleger ídolos.

Bebum: Esse, quem não tem na família, tem na rua ou no bairro. Se o Cruzeiro vence, bebe para comemorar, se perde, bebe para afogar as tristezas. Suas páginas heróicas invariavelmente cheiram à pinga. Cada vitória e derrota passa obrigatoriamente por uma garrafa e, se dá empate, costuma beber dobrado em solidariedade a ambos.

Cartola: Para o torcedor cartola tudo de bom e de ruim que acontece no time vem do dedo daquele que o preside. Talvez não seja equivocado dizer que a maioria dos presidentes que teve o Cruzeiro foram, na verdade, torcedores Cartola. Se tudo vem do presidente, é a ele que são dirigidos a maioria dos elogios e a totalidade dos xingamentos. E, se o time for mal e o presidente comprar um carro novo, vixe! Sai de baixo que lá vem o torcedor cartola.

Desligado: Sabe aquele torcedor que veste a camisa, assiste à maioria dos jogos mas está sempre atrasado pelo menos umas duas semanas com relação às informações que envolvem o Cruzeiro? De vez em quando ele vem a perguntar: "E esse técnico heim? Até quando vamos ter que aturar?" Isso quando já faz uma semana que o técnico caiu e o Cruzeiro já contratou um novo. E quando você lhe conta a "novidade" ele diz em tom de espanto: "_ É mesmo!".

Exigente: O torcedor exigente acha que o Cruzeiro deve ter no mínimo uns três jogadores atuando de titular na Seleção Brasileira e é totalmente impaciente com qualquer perna de pau que venha a vestir o manto azul. É um exímio observador das estatísticas de fim de jogo quando averigua se o time tem errado muitos passes. O torcedor exigente costuma freqüentar a Toca para cobrar raça dos jogadores até em coletivo. É uma das figuras mais presentes na imensa torcida cruzeirense.

Feminina: Bela e harmoniosa como o futebol do Cruzeiro na década de 60, a torcedora cruzeirense é o perfume que encanta o Mineirão. É a flor que compõe, com o verde do gramado e o azul do céu, a mais bela paisagem nas tardes de domingo do Gigante da Pampulha. Essa bela facção começou a crescer na época de Raul com sua camisa amarela e cabeleira loura e desde então não pára de impor sua voz em todos os cantos entoados no Mineirão.

Geraldino: Denominação utilizada para o torcedor que vai de Geral. Também bastante barulhenta, é a espécie que fica mais próximo dos jogadores cruzeirenses que, quando não dão o sangue pelo time, são freqüentemente alvejados com pilhas, chinelos, dentaduras ou qualquer outro objeto maciço. Quem joga? Pergunte ao gandula.

Herói: Sabe aquele torcedor que mora na periferia de BH, ganha um salário mínimo quando acontece de estar empregado, tem quase tantos filhos quanto o Cruzeiro tem títulos e, numa noite chuvosa de quarta-feira, pega duas lotações para chegar ao Mineirão para assistir ao Cruzeiro na 1ª fase da Copa Brasil? Isso pagando um preço maior pela arquibancada porque a geral está fechada, tendo que voltar quase à meia-noite para chegar em casa depois das duas para acordar as cinco e ir trabalhar. Esse é o torcedor herói que segue este ritmo até mesmo na derrota.

Ilustre: Esta lista é densa. Começa com Lô Borges com o seu Trem Azul, passa por Milton Nascimento até chegar em Samuel Rosa e a macapaense Fernanda Takai entre tantos outros torcedores ilustres. São pessoas que muito mais que torcer pelo Cruzeiro usam de sua fama para divulgar aos quatro cantos o amor pelo mais querido das alterosas. E porque não citar nessa lista ex-jogadores? Como Palhinha, que jamais faria sucesso como comentarista de futebol, já que não consegue ser imparcial nem esconder sua emoção ao ver em campo a camisa cinco estrelas.

Juiz: O torcedor juiz costuma ver no soprador de apito a culpa por todas as derrotas cruzeirenses. Provavelmente este tipo de torcedor tenha nascido antes do fatídico jogo da final do brasileiro de 74 quando "garfaram" o Cruzeiro. Desde então, quando o árbitro acerta não fez mais que a obrigação, quando erra contra o Cruzeiro está perseguindo e quando erra a favor está querendo compensar as injustiças passadas. Ou seja, ele nunca vê o árbitro com bons olhos. Quem sofre com isso? O Juiz e sua mãe que nada tem a ver.

Limão: Conhecido pelo seu costumeiro azedume, para o torcedor limão aquele time da década de 60 era excessivamente lento, o time de 2003 carecia de craques e o time de 76 era fraco porque não soube jogar na neve contra o Bayer. Quando o Cruzeiro venceu o Alianza de Lima por 7 x 1, colocando o 7 no placar em homenagem a Roberto Batata, ele reclamou do gol tomado que, na sua opinião, manchou a homenagem. A Tríplice Coroa em 2003, para ele, foi ofuscada pelo fato do Brasileirão não ter sido conquistado de forma invicta como foi o Mineiro e a Copa do Brasil. O torcedor limão diz isso tudo sem estar nervoso e é isso que irrita. Cervejada para comemorar um título? Para esse torcedor é melhor uma dose da "marvada", e sem limão.

Memoriado: Esse é aquele torcedor que não perde uma oportunidade para escalar os 11 jogadores daquela final do Mineiro de 77, além de falar o tempo do jogo em que aconteceram os gols do Revétria. Não bastasse não esquecer os detalhes dos jogos que já acompanhou, é também um historiador. Peça a ele para contar histórias do Palestra tália de Niginho, Nininho e Ninão, e terá assunto para um dia inteiro.

Noticiador: Essa espécie de torcedor é constantemente procurada pelo torcedor desligado. O torcedor noticiador parece morar dentro da Toca de tão bem informado que é. Se o Cruzeiro contrata um jogador, ele anuncia antes da imprensa, se dispensa técnico, a mesma coisa. Volta e meia ele vem ao seu encontro com a frase na ponta da língua: "_ Tá sabendo da última?". E, quando isso acontece, pode responder que não porque a sua última é no máximo a penúltima do torcedor noticiador.

Otimista: Com este não há tempo ruim. O torcedor otimista sempre acha que a camisa celeste pode superar qualquer obstáculo. Aquele dizer popular que afirma que a "esperança é a última que morre" não funciona para ele, já que sua esperança jamais morre. Quando a coisa não tem mais jeito, o Cruzeiro não tem mais chances na temporada, ele automaticamente pula para o ano seguinte e começa a falar das nossas possibilidades no próximo campeonato: "_ Time como o Cruzeiro é sempre favorito!".

Pessimista: Oposto do otimista. Quando o Cruzeiro estava doze pontos à frente do Santos em 2003 ele costumava dizer: "_ Gente, não empolga, só acaba quando termina!". Depois que o Cruzeiro perdeu para Juventude e Internacional diminuindo a distância para seis pontos ele reaparece: "_ Tô falando, tô falando!". Mas internamente é um torcedor fanático e que, em hipótese alguma, se acha pessimista. "_ Sou realista!".

Quieto: Sabe aquele sujeito que trabalhou um tempão ao seu lado e só depois de meses ou anos você descobriu que ele é cruzeirense? Trata-se do torcedor quieto. Mas, apesar do excesso de discrição, o torcedor quieto não é menos torcedor que os outros. Normalmente não vai ao Mineirão porque não gosta de multidão, mas assiste ou ouve todos os jogos do Cruzeiro em sua casa que costuma ser repleta de objetos que identificam o Cruzeiro. Em dia de jogo ele tira da primeira gaveta aquela camisa com a qual o Cruzeiro conquistou a Supercopa de 92 que é a sua preferida.

Realista: Além de ser a auto denominação do pessimista, o realista é o conhecido "pé no chão". Dificilmente você o verá cantando vitória antes do apito final. Não faz prognósticos esperançosos nem catastróficos e não costuma ir ao Mineirão, pois "nossa realidade violenta não nos permite tais coisas". O seu botão da euforia fica em "off" a maior parte do tempo, só sendo ligado para comemorar um título. E, já na ressaca da comemoração, começa a se preocupar com a formação do time para a próxima temporada.

Saudosista: O torcedor saudosista pode ser facilmente identificado através do radinho de pilha na orelha e aquela camisa azul surrada com a qual o Cruzeiro conquistou o mineiro de 84. Qualquer meio campo que for escalado no Cruzeiro, ele dirá que não é tão bom quanto o trio Piazza-Dirceu-Tostão. Costuma dizer também que não entende como foram acabar com os pontas. "_ Imagina! Futebol sem um Joãozinho, sem um Natal!"

Técnico: Para o torcedor técnico todos os problemas do time passam pelo esquema tático. Expressões como nó tático, padrão de jogo e marcação sob pressão são comuns no seu vocabulário. 4-4-2, 3-5-2 e 4-3-3 para o torcedor técnico vão além de simples combinações numéricas podendo, inclusive, ser a chave para uma vitória. Não é então novidade que o técnico de fato é o que mais sofre na mão desse torcedor. E ai do técnico se não fizer o que esse torcedor recomenda!

Uruca: O torcedor uruca é o popular "pé frio". Ele parece carregar uma urucubaca tão grande que sempre que vai ao Mineirão o Cruzeiro sai derrotado. Sua proximidade com o Mineirão é sempre uma iminência de desastre. Há uma lenda que diz que, no jogo Cruzeiro e Juventude em 2003, quando o Cruzeiro interrompeu a seqüência de quase um ano sem derrota no Mineirão, o estádio estava repleto de torcedores do tipo uruca. Para detectar esta espécie de torcedor procure saber quem está no banheiro na hora que acontecem os gols do Cruzeiro.

Visionário: Essa espécie de torcedor está sempre uma competição à frente. O seu dizer mais comum é o "_ Rumo a Tóquio!". Tem um gosto exagerado por ranking e está sempre dizendo que, no máximo em dois ou três anos, o Cruzeiro configurará como o primeiro do mundo. Vive no mundo da lua, ou melhor, das estrelas e, na comemoração dos títulos, ele costuma ficar meio aéreo. Deve estar pensando no próximo título.

Xarangueiro: Peço permissão aos charangueiros com ch para tomar de licença poética e arrumar um espaço no alfabeto da torcida para esse nobre cruzeirense. Tão tradicional e harmonioso quanto o Cruzeiro de Tostão, é da charanga cruzeirense que sai o som mais afinado do Mineirão. E quando o time em campo resolve acompanhar esta harmonia, começamos a escrever páginas heróicas na história cruzeirense. Histórias musicadas, é bom que se diga!

Zangado: O torcedor zangado gosta de ir ao estádio para descarregar suas energias. Começa xingando todo mundo que empurra na fila do ingresso, reclama da cerveja que não está na temperatura ideal e fala mal do torresmo que, segundo ele, tem cabelo. Quando começa o jogo ele já despejou vários adjetivos depreciativos contra a ADEMG que cuida mal do Mineirão e também contra o Juiz que atrasou o início do jogo. Iniciado o jogo ele começa a xingar qualquer jogada errada que o time faz e, quando isso acontece, esbraveja: "_ Jogador profissional não pode errar, fica o dia inteiro por conta!".


No momento que o Cruzeiro rompeu todas as barreiras regionais e passou a ser um time do mundo, a torcida passou a ser representada cada vez mais por variados tipos de torcedor. Cada um com uma forma bem particular de sofrer, comemorar e se apaixonar pelo time azul celeste. Alguns demonstram mais, outros menos, há os que participam mais da história do clube enquanto outros, por estarem longe da Toca da Raposa, participam menos. Mas não hesito em dizer que o Cruzeiro tem uma participação marcante nas vidas de todos estes tipos de torcedores que, apesar da diferença no comportamento, têm em comum a paixão pelo Cruzeiro e o vazio que teriam se, em um 2 de Janeiro qualquer, não fosse fundado o tão querido e jamais vencido Cruzeiro Esporte Clube.

Saudações Celestes,

Wilson Flávio

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