
Joao Duarte, uma Voz da Velha Guarda Azul Joao Duarte, engenheiro escreve periodicamente no Cruzeiro.Org |
17/02/2018 | Joao Duarte
Joãozinho e a arte do drible
Vi vários craques que tinham o drible como recurso jogarem, mas, nenhum deles me fez tão alegre quanto Joãozinho, o 11 do Cruzeiro.
Mundo Azul,
☻ A importância do drible no futebol – Uma das minhas grandes frustrações na vida foi não ter sido um grande driblador.
Desde cedo entendi que não era aquela a minha praia e, portanto, teria que participar do jogo de outras formas, sendo raçudo, conservando um bom posicionamento em campo, procurando sempre passar a bola para quem estava melhor posicionado, fazendo boa leitura do jogo ou, principalmente desestabilizando emocionalmente aos meus adversários, coisa que eu sempre soube fazer e tirar vantagem. Afinal de contas, no futebol a imposição psicológica conta e muito.
Mas, desde sempre admirava a arte do drible que era simples para Pico, ou Renílson, o caçula dos Lima Guimarães, que era ambidestro, driblava ou saia para qualquer lado, inovava e era imprevisível quando conduzia a bola. Também tenho que me lembrar do Zezinho da Mundinha do Venâncio que era conhecido por Tripa e que aperfeiçoou o drible Rabo de Vaca introduzido no futebol por Eduardo Amorim, um cracaço de bola do Cruzeiro dos anos 70. Tripa escondia a bola como poucos. Gostava da finta desclassificante, da bola debaixo das pernas do oponente do chapéu e da famosa gaúcha, no futebol de campo.
Só que havia uma diferença entre ambos. Os dribles de Pico eram normalmente na direção do gol adversário, sempre objetivos e raramente ele era visado nas faltas, porque todos entendiam que era o recurso que ele se utilizava para colocar seu time em vantagem ante ao adversário. Pico era um baita organizador de jogo, um DEZ clássico, um ponta-de-lança que sabia entrar na área e fazer gols. E me fartei de vê-lo levar seus times às vitórias nas quadras ou nos campos de futebol.
Já Tripa apanhava o jogo inteiro, os defensores adversários se sentiam humilhados com a sua destreza e tentavam lhe intimidar na base da pancada. Sem sucesso. Este era o estilo de jogo dele, partia pra cima, não arregrava de jeito nenhum e quando sentia que o objetivo do outro era lhe amedrontar aí que virava um azougue mesmo...Era um ponta clássico, tinha prazer em deixar seus companheiros na cara do gol, não se importava muito com artilharia. Gostava do jogo pela beleza. Era um craque.
Ambos poderiam ter sido jogadores de futebol profissional, em minha opinião. Mas, Pico, preferiu fazer engenharia e jogar bola nas possibilidades que tinha, como lazer. Tripa, teve um acidente sério (foi atropelado por um ônibus no Praça 12 em Belo Horizonte) e depois disto, seus movimentos ficaram limitados, os joelhos passaram a inchar e ele perdeu velocidade porque ficou muito tempo parado, o que lhe impediu de fazer um teste no Cruzeiro, aliás, time do coração de ambos.
Em termos de futebol profissional vi vários e grandes dribladores. Vi pouco do Mané Garrincha nos campos, mas, paro para assistir qualquer filme antigo com imagens dele. Todos sabiam que ele iria cortar para a direita, mas, não tinha como pegar. A cena mais marcante do Mané que ouvi contar foi num amistoso na Itália em que ele driblou o time inteiro e ficou cara a cara com o gol e não quis fazer. Pegou a bola e voltou para a entrada da grande área, sempre driblando e voltou de novo à frente do goleiro que deu um passo e levou a bola entre as pernas. O treinador do Botafogo, insano com o fato, lhe perguntou porque que ele não havia feito o gol na primeira oportunidade, ao que ele respondeu de modo simplório... Ora, o cara não quis abrir as pernas, seu Zezé...
Eu tive a sorte de ver também Pelé jogar e vê-lo arrancar de trás do meio-campo e só parar nas redes do adversário. Eu vi Rivelino dar o elástico no Alcir, deixa-lo paralisado, entrar na área e colocar a bola nas redes do Vasco. Eu vi Cafuringa no Fluminense driblar até o juiz e não fazer o gol. Eu vi Ronaldo o fenômeno fazer Kanapkis comer grama em frente ao túnel do Cruzeiro e marcar 3 gols no clássico no dia da estreia de Cerezo com a camisa azul estrelada. Eu vi Diego Maradona fazer fila num jogo contra a Inglaterra e driblar mais de meio time adversário antes de meter a bola nas redes. Eu vi Zico, entrar na defesa da Iugoslávia, para fazer um golaço que deixou Luciano do Valle muito emocionado, vi Messi encantar Barcelona, vi Neymar fazer a festa em tudo quanto foi lugar, vi Djalminha mostrar a sua arte em vários gramados deste mundo, vi Dirceu Lopes abrir espaço nas defesas adversárias, especialmente do Atlético-MG e fazer a festa, mas, nenhum deles fez meu coração mais alegre que Joãozinho, o dono da camisa 11, o maior ponta-esquerda do futebol mineiro em toda a sua história e sendo meu xará, ser também um dos meus maiores ídolos no futebol.
Joãozinho carregava consigo sempre a nossa esperança, quando a bola caia nos pés dele do meio de campo para frente a torcida do Cruzeiro se levantava, podia esperar que vinha coisa boa. E como nasceram lances capitais das pernas do Joãozinho, que ficou conhecido como Bailarino da Toca porque colocava os adversários para dançar, literalmente. Eu já vi Joãozinho receber de Raul, driblar oito adversários diferentes antes de fazer o gol. Eu vi Joãozinho arrebentar com o Fluminense de Edinho e Givanildo Oliveira para marcar um gol antológico no Mineirão. Joãozinho tinha mais facilidade nos dribles em progressão, em velocidade, pois, mudava de direção e de controle de bola entre direita e esquerda, o que dificultava muito as ações de marcação. Mas, quando parava a bola, no pé direito e sem olhar para ela, observava o movimento dos pés do adversário, fazendo o corte no contrapé do dito cujo, era fatal. Muitas vezes a surpresa era tão grande que os laterais chegavam a cair. Várias são as minhas lembranças de João Soares de Almeida Filho, que completou 62 anos de idade anteontem e é o meu homenageado especial nesta coluna.
Joãozinho teve, em sua própria avaliação, no dia 07/03/1976 a maior atuação de sua vida no famoso jogo de abertura da Copa Libertadores da América daquele ano : Cruzeiro 5 x 4 Internacional. Ele só faltou fazer chover naquele dia, marcou 2 gols, sofreu o pênalti que Nelinho converteu para nos dar a vitória no fim do jogo e endoidou o time do Inter inteiro. Cláudio Duarte, Caçapava que fazia a sobra e finalmente Valdir (que entrou no lugar de Cláudio) saíram tontos de campo. Joãozinho estava impossível.
Porém, para mim, a atuação dele no clássico que definiu o Campeonato Mineiro de 77, foi muito marcante, pois, ele além de ter feito o 3* gol, ainda participou dos outros 2 lances de gol e alimentou o nosso ataque o tempo inteiro, fazendo Cerezo engolir as suas palavras.
É João, naquele dia eu agradeci aos céus por tê-lo colocado ao nosso lado. Afinal de contas não fossem sua magia e irresponsabilidade naquela falta cobrada com maestria contra o gol do River Plate de Landaburu em Santiago do Chile, não teríamos a primeira conquista internacional do Cruzeiro, a Libertadores de 1976. Obrigado Joãozinho por suas atuações marcantes com a camisa do Cruzeiro.
A arte do drible combina com ousadia, mas, precisa ser desenvolvida desde a mais tenra idade. Entretanto, não é algo que se aprende. É preciso ter o dom. E mais que ter o dom é preciso que o mesmo seja aperfeiçoado. Mas, este tem sido um grande problema nas tais escolinhas de futebol. O menino aparece com qualidade e logo os professores começam o trabalho de lhe tolherem esta virtude e a arte muitas vezes fica reprimida em nome da retenção da posse de bola. É preciso que rapidamente o futebol brasileiro resgate as suas raízes. No Cruzeiro recentemente apareceu um garotinho de 10 anos de idade, chamado William Estevão, que realmente tem o dom. A coisa á tão clara que a Nike já assinou contrato com ele. Espero que o Cruzeiro sabe valorizar e desenvolver este dom inato que o garotinho tem para que no futuro ele possa nos dar muitas alegrias.
O drible é o mais diferenciado recurso do futebol. Nos dias de hoje, mais ainda. Este negócio de posse de bola virou obsessão dos treinadores, embora seja lógico. Se você está com a bola o adversário não te ameaça, mas, aquele que fica pouco com ela e a usa bem, faz gols e ganha os jogos. A posse de bola infrutífera, dos toques laterais ou passes trocados na defesa não me convence. Assim, continuo a valorizar o time que faz o uso correto do drible como arma para desmontar o sistema defensivo do adversário, mesmo quando se joga contra 2 linhas de 4 jogadores bem compactadas, como a maioria dos times adota nos dias de hoje. Mas, o drible sozinho não faz a diferença. É preciso também se contar com a movimentação correta dos companheiros de time, para criar os espaços e a condição de passe.
Este tem sido o grande problema do Paris Saint Germain de Neymar, Cavani e Mbappe. Neymar faz o drible e toca em Cavani para que este faça o pivô e lhe devolva a bola à frente, mas, o uruguaio invariavelmente busca a conclusão a gol. Mbappe é mais novo e rápido, mas, embora seja um grande jogador ainda enfrenta problemas com a decisão a tomar, coisa que vai melhorar com o tempo. Neymar também tem sido muito visado em campo por suas atitudes. O seu estilo é provocador. E assim, como o meu amigo Tripa, ele não afina de jeito nenhum, mas, apanha muito e tem que ter cabeça fria para não cair na armadilha dos revides. O placar de 3 x 1 de Madri é uma vantagem considerável, mas, não é definitivo. O jogo da volta será fantástico.
E finalmente, se tem uma coisa que me irrita no futebol é defensor que fica nervoso com os dribles que leva e vai tirar satisfação com os dribladores. E os juízes parecem que sempre ficam ao lado deste POLITICAMENTE CORRETOS do futebol. Chega. Por mais festa e menos MIMIMI nos campos de futebol.
☻ Festa - Completo hoje 12 anos escrevendo neste espaço. Jamais poderei me esquecer que me dá prazer escrever sobre o Cruzeiro Esporte Clube e suas glórias e que o Cruzeiro.Org foi quem primeiro me abriu as portas.
Só pararei de escrever aqui o dia que o Evandro Oliveira, que é o dono do pedaço, disser que não posso mais. Gosto da liberdade que tenho para me expressar aqui e isto é irrevogável.
☻ Homenagens Especiais desta coluna: Joãozinho, Pico e Tripa, em nome dos grandes dribladores do Brasil.
☻ Aqui do Cruzeiro.Org as homenagens hoje vão para: PHDF, Toninho Caixeta, Fernandão_Br, Aloisio Mendes, Marco de Curitiba, Azul10, Dra. Maria Celeste Gonçalves, Estrelado Campeão, MRR, Ronito e Thiago Campos. E para treinador deste time convoco o grande Hélio Sangue Azul, que sempre nos prestigiou com suas opiniões neste espaço.
☻ E de Conceição do Mato Dentro-MG: Hoje a homenagem é para a turma da Avenida : Antônio Cláudio de Rezende, Ramon Ferreira, Eliezer de Souza Mattos, Otacílio Costa Neto e Miltinho Seabra do João Biá; Luiz Mauro de Rezende, Heloisa Rezende Ferreira & Antônio Lúcio Carvalho Ferreira e Antônio Augusto de Barros ; Olímpio José Ferreira (Tiú), Lora Costa e Ricardo Silva ou Dr. Pindoba.
E para treinar este timaço o convocado da semana é Cláudio Alberto Carvalho Carneiro (Bodão), um companheiro de várias batalhas do Cruzeiro.
Cruzeiro, Cruzeiro Querido...Tão Combatido, Jamais Vencido
Joao Duarte joaochiabi@globo.com
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 | Celeste | Sorocaba-Itajub� | 17-02-18 15h31min João deixou o futebol é levou junto a receita de como driblar. Sorte a nossa tê-lo do nosso lado. |  | Celeste | Sorocaba-Itajub� | 17-02-18 15h40min Obrigada pela homenagem. |  | Celeste | Sorocaba-Itajub� | 17-02-18 15h40min Obrigada pela homenagem. |  | Marco | Curitiba | 17-02-18 20h11min Obrigado pela homenagem João. Ainda bem que você não desiste de escrever aqui, é uma das poucas colunas que leio. Este ano estou confiante, mas cauteloso com nosso time. |  | PHMG | Brasília - BH | 18-02-18 16h30min - Joãozinho Travolta, foi muito bom ir ao Mineirao vê-lo jogar. Jogar não, dar show. Dribles que valiam o ingresso, mesmo quando não terminavam em gol.
- Valeu João pela lembrança. |  | heliosangueazul | So Paulo | 18-02-18 22h57min Olá João, quanto prazer poder voltar a ler suas colunas, fez muita falta durante esse tempo que você não escreveu aqui.
João, estou muito feliz e honrado com a homenagem, ainda mais me escalando como treinador desse timaço, nem sei se mereço.
Muito obrigado mesmo, de coração.
Quanto ao tema da coluna, achei ótimo, pois falar de Joãozinho só nos dá orgulho, cracasso que nos deu muitas alegrias, me sinto privilegiado de tê-lo visto jogar, lembro-me de um grande amigo cruzeirense que que dizia... |  | heliosangueazul | So Paulo | 18-02-18 23h05min ...É muita bola para um jogador só.
Aproveitando, já que estamos falando de craque, que bela matéria mostraram hoje na Globo sobre o PRÍNCIPE Dirceu Lopes, como é bom relembrar que esse juntamente com o Tostão e cia me fizeram ser esse cruzeirense apaixonado que sou.
Um grande abraço pra você João e para todos os amigos que comentam aqui nesse espaço.
Uma boa noite a todos. |  | Pyxis | BHZ | 28-02-18 04h39min JD, obrigado por retratar meu grande ídolo, Joãozinho. |
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